Todos aqueles que amam a
capoeira e se interessam em conhecê-la mais a fundo, suas histórias, seus
personagens, os fatos importantes, enfim, todos aqueles que buscam compreender
melhor essa rica manifestação da cultura afro-brasileira, devem muito
àquele que foi um dos maiores, senão o maior pesquisador da capoeira
de todos os tempos: Frederico José de
Abreu, ou simplesmente Frede Abreu, como era conhecido no meio.
Frede Abreu não está mais entre nós, partiu para as
“terras de Aruanda” em julho de 2013, mas deixou como legado uma obra
importantíssima, através dos muitos livros, artigos, crônicas e textos que
escreveu, além de um enorme e rico acervo organizado por ele composto de
documentos, livros, fotografias, filmes, revistas, jornais, etc., que pode
ser considerado o maior acervo sobre capoeira existente.
Mas o mais importante, é que
Frede sempre foi um sujeito muito generoso. Ele sempre abriu as portas de sua
casa - onde todo esse acervo era guardado - pra qualquer um que desejasse
pesquisar e se aprofundar no conhecimento sobre a capoeira. Ele sempre acolheu
de forma muito amável todos que o procuravam: pesquisadores, estudantes,
capoeiristas, historiadores, e contribuiu de forma efetiva para a maior parte
de toda a pesquisa produzida sobre capoeira no Brasil e também no exterior. É
muito difícil encontrar algum livro, artigo, documentário, tese de mestrado ou
doutorado sobre capoeira no qual ele não seja citado ou não tenha colaborado de
alguma forma.
Frede viajou por todo o Brasil e
também para o exterior, onde sempre era convidado a participar de eventos,
conferências, seminários, palestras ou simples “bate-papos” sobre capoeira. E
fazia isso sempre com muita boa vontade, prazer, simpatia e bom humor que caracterizavam
esse baiano que nunca se recusou a dividir o seu amplo conhecimento sobre
a nobre arte da capoeiragem, quando era requisitado, por quem quer que fosse.
Mas a contribuição de Frede Abreu para a capoeira vai
ainda mais além: ele foi um dos responsáveis pelo retorno
do mestre João Pequeno à capoeira. João tinha se afastado da
capoeira no início da década de 1980, depois da morte de Pastinha, e se
dedicava a vender legumes e verduras numa barraca na Feira de São Joaquim,
junto com sua esposa, a querida “Mãezinha” como é conhecida por todos.
Frede então articulou a volta de João, e foi o responsável pela organização da
sua academia, que foi instalada no Forte Santo Antônio além Carmo, e se
constituiu como o centro de todo o movimento de recuperação da capoeira angola,
que nessa época passava por um momento difícil, num
processo de franca decadência.
Há alguns anos, Frede conseguiu apoio
do governo federal para enfim organizar o seu vasto acervo,
criando o Instituto Jair Moura que durante algum tempo funcionou no bairro do
Garcia em Salvador. Mas esse apoio não teve continuidade e todo o acervo voltou
para a sua casa, num quarto onde tudo continua a ser guardado com
muito zelo pela sua família.
Esperamos que as autoridades se
sensibilizem com a importância da preservação e organização desse
verdadeiro tesouro sobre a memória da capoeira que Frede reuniu
com tanto carinho e dedicação, durante tantos anos, e está ameaçado
de se degradar pela falta de um local adequado sob a orientação de
profissionais especializados.
Frede se foi, mas seu
sorriso franco, seu fino senso de humor, sua disponibilidade e
generosidade, seu carisma como ser humano e seus inestimáveis serviços
prestados à capoeira ficarão eternizados entre todos aqueles que
valorizam a memória social de um país que sofre de “esquecimento
crônico”, como é o caso do Brasil.
Um axé meu amigo, onde quer que
você esteja!
Fonte: Portal Capoeira